quarta-feira, 8 de setembro de 2010

"O Brasil de hoje deve sua existência à capacidade de vencer obstáculos que pareciam insuperáveis em 1822", diz Laurentino Gomes


O jornalista Laurentino Gomes costuma dizer que escrever sobre a Independência do Brasil era "quase uma obrigação". Jornalista experiente e talentoso, ele é autor do famoso 1808, livro que narra as aventuras da família real no Brasil. Por que ler 1822? "Este é um livro reportagem, escrito em linguagem simples e acessível a qualquer pessoa interessada em entender um pouco melhor o Brasil de hoje", conta Laurentino.

Segundo ele, a colônia que viria a ser o Brasil, "tinha tudo para dar errado". Confira trechos da entrevista concedida ao UOL Educação, por e-mail:

UOL Educação - 1822 é um livro apenas para quem gosta de histõria?
Laurentino Gomes - No livro eu mostro que em 1822 o Brasil tinha tudo para dar errado. De cada três brasileiros, dois eram escravos, negros forros, mulatos, índios ou mestiços. O analfabetismo era geral. Os ricos eram poucos e, com raras exceções, ignorantes. O isolamento e as rivalidades entre as províncias prenunciavam uma guerra civil, que poderia resultar na divisão do território, a exemplo do que já ocorria nas vizinhas colônias espanholas. Sem dinheiro, o novo país nascia falido. Curiosamente, esse Brasil improvável conseguiu se manter unido e se firmar como nação independente por uma notável combinação de sorte, acaso, improvisação, e também de alguma sabedoria. O Brasil de hoje deve sua existência à capacidade de vencer obstáculos que pareciam insuperáveis em 1822. E isso, por si só, é uma enorme vitória, mas de modo algum significa que os problemas foram resolvidos. Ao contrário. A Independência foi apenas o primeiro passo de um caminho que se revelaria difícil, longo e turbulento nos dois séculos seguintes. As dúvidas a respeito da viabilidade do Brasil como nação coesa e soberana, capaz de somar os esforços e o talento de todos os seus habitantes, aproveitar suas riquezas naturais e pavimentar seu futuro persistiram ainda muito tempo depois da Independência.

UOL - Dom Pedro 1º é de fato, o protagonista da histõria da Independência do Brasil?
Laurentino - D. Pedro foi um meteoro que cruzou os céus da história numa noite turbulenta. Deixou para trás um rastro de luz que ainda hoje os estudiosos se esforçam por decifrar. Viveu pouco, apenas 35 anos, mas seu enigma permanece nos livros e nas obras populares que inspirou. Raros personagens passaram para a posteridade de forma tão controversa. Era uma força viva da natureza.

UOL - E o Dom Pedro chefe de Estado, como era? Tinha ideias próprias ou sempre estava sob as asas de José Bonifácio?
Laurentino - Nas idéias políticas, D. Pedro foi um personagem à frente do seu tempo. Era admirador de Napoleão Bonaparte, o homem que havia obrigado seu pai, D Pedro, a fugir de Portugal. Tinha um discurso liberal, mas uma índole autoritária. Fechou a constituinte em 1823 porque os deputados não se curvaram à sua vontade e, no ano seguinte, outorgou ao Brasil uma das constituições mais liberais e avançadas da época. Depois de abdicar ao trono brasileiro, em 1831, voltou a Portugal para defender as idéias liberais numa guerra épica contra o irmão, D. Miguel, que havia usurpado o trono português em um golpe absolutista. A vitória de D. Pedro nessa guerra foi celebrada pelos liberais no mundo todo. Era, portanto, um homem que idéias próprias e bem diferentes daquelas defendidas pelo seu pai, D. João VI, e a mãe, Carlota Joaquina, que os últimos soberanos absolutos de Portugal.

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Antônio Carlos Olivieri
Karina Yamamoto
Em São Paulo

Fonte: UOL Educação

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